“O LIVRO
IMPRESSO VAI ACABAR DE FATO?”
Por: Dora Garrido acadêmica do curso de Biblioteconomia da UFSC
Por: Dora Garrido acadêmica do curso de Biblioteconomia da UFSC
Acho que não posso responder isso por um grupo
— no caso, estudantes de biblioteconomia e bibliotecários. Para mim,
pessoalmente, não irá acabar enquanto os leitores desse tipo de material
existirem, simplesmente. Ou seja, tendo em vista que eu tenho XX anos, coloque
mais uns 60 anos aí, talvez mais, tranquilamente, e aposto como os materiais
impressos (livros, periódicos e obras de referência) ainda existirão. A questão
da afetividade com as bibliotecas e com os livros ainda existe e também não
pode ser ignorada. A questão do acesso a informação também conta: percebemos
que a tecnologia ampliou o acesso de maneiras até então inimagináveis, e que a convergência
das mídias já é um fato considerado cada vez mais natural (e desejado)… Mas e a
qualidade com que o conteúdo está sendo acessado? Autodidatismo, sendo bem
realista, não me parece ser um privilégio de todos e literacia da informação (o
“aprender a aprender”) não me parece que fará parte do currículo escolar tão
cedo.
Riggs,
no post “Quem lê livros?” de acordo com uma pesquisa que encontrou do Grupo
Jenkins, questiona se houve uma mudança no entretenimento popular ou se apenas
os livros estejam menos interessantes do que costumavam ser antigamente, ou
ainda, questiona se as pessoas estão de fato emburrecendo (o que não deixa de
ser uma teoria). Talvez tudo isso esteja associado ao modelo de educação que
ainda persiste até hoje, segundo Sir Ken Robinson. Em um comentário que também
li hoje no post “Precisamos mesmo de bibliotecas?” (tema que confesso já estar
cansada de ver pipocar na minha timeline no Twitter) um autor anônimo colocou o
seguinte questionamento que achei interessante:
Vocês
realmente acham que todo mundo vai conseguir comprar e-books? E se de repente
todo mundo no mundo (alfabetizado ou não) tivesse um e-book e acesso ilimitado
à e-books grátis, acham que isso seria o suficiente?
Então
sim, acho que precisamos sim de nossas bibliotecas. Por que e-books, assim como
livros impressos, são um meio e não a solução para todas as nossas necessidades
de informação.
Neil
Gaiman, além de lamentar o fechamento de várias bibliotecas, já falou que o que
o preocupa não é o fim dos livros, mas o fim dos leitores. Fechar as
bibliotecas por que elas gastam muito dinheiro é uma decisão administrativa e
econômica que desconsidera totalmente as necessidades de uma comunidade que
precisa deste tipo de apoio. Ok, sei que é batido, mas é isso mesmo: será que a
única coisa que precisamos nessa vida mesmo é só de comida? Podemos sobreviver
restritamente apenas com o que é básico? Sim, podemos. Mas seria isso mesmo
desejável pra toda uma comunidade?
As
bibliotecas nunca foram armazéns de livros. Embora continuem a fornecer livros
no futuro, também funcionarão como sistema-nervoso da informação digitalizada –
tanto em termos de vizinhança, quanto dos campi universitários. - Robert
Darnton
Literatura
não é apenas literatura, assim como livros não são apenas livros… E uma
biblioteca (dependendo das pessoas que lá trabalham) não é apenas uma
biblioteca. É difícil, para mim, acreditar que as bibliotecas e os livros estão
morrendo e acabando, uma vez que a biblioteca da minha universidade nunca tem
mesas disponíveis, nem espaço para estudo o suficientes. Por que será que ela
está sempre cheia de gente, estudando, com livros, papéis, anotações, laptops,
netbooks e celulares de mil tipos? Por que essas pessoas não estudam em casa?
Se existe um ambiente que proporciona silêncio e acomodação, onde as pessoas se
sintam confortáveis para estudar, planejar trabalhos, tomar café ou dormir no
puffe, por que esse ambiente deveria deixar de existir? O que existe nesse
ambiente e atrai as pessoas, que não existe em nenhum outro lugar?
Alguém
ousa imaginar o conceito de uma biblioteca feita apenas de pessoas ao invés de
simplesmente só livros? Em um conceito de ‘centro de cultura e informação’
totalmente livres e independentes de organização e de suportes físicos de
informação? Imaginar é uma tarefa difícil e conciliar a imaginação com a
viabilização, mais difícil ainda. Mas isso a gente deixa para os visionários.
Enquanto isso, continuaremos questionando e tentando nos adaptar a todas as
mudanças, na medida do possível.
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