terça-feira, 5 de junho de 2012

“O LIVRO IMPRESSO VAI ACABAR DE FATO?” LEIA O QUE DIZ


“O LIVRO IMPRESSO VAI ACABAR DE FATO?” 
  Por: Dora Garrido acadêmica do curso de Biblioteconomia da UFSC



 Acho que não posso responder isso por um grupo — no caso, estudantes de biblioteconomia e bibliotecários. Para mim, pessoalmente, não irá acabar enquanto os leitores desse tipo de material existirem, simplesmente. Ou seja, tendo em vista que eu tenho XX anos, coloque mais uns 60 anos aí, talvez mais, tranquilamente, e aposto como os materiais impressos (livros, periódicos e obras de referência) ainda existirão. A questão da afetividade com as bibliotecas e com os livros ainda existe e também não pode ser ignorada. A questão do acesso a informação também conta: percebemos que a tecnologia ampliou o acesso de maneiras até então inimagináveis, e que a convergência das mídias já é um fato considerado cada vez mais natural (e desejado)… Mas e a qualidade com que o conteúdo está sendo acessado? Autodidatismo, sendo bem realista, não me parece ser um privilégio de todos e literacia da informação (o “aprender a aprender”) não me parece que fará parte do currículo escolar tão cedo.
Riggs, no post “Quem lê livros?” de acordo com uma pesquisa que encontrou do Grupo Jenkins, questiona se houve uma mudança no entretenimento popular ou se apenas os livros estejam menos interessantes do que costumavam ser antigamente, ou ainda, questiona se as pessoas estão de fato emburrecendo (o que não deixa de ser uma teoria). Talvez tudo isso esteja associado ao modelo de educação que ainda persiste até hoje, segundo Sir Ken Robinson. Em um comentário que também li hoje no post “Precisamos mesmo de bibliotecas?” (tema que confesso já estar cansada de ver pipocar na minha timeline no Twitter) um autor anônimo colocou o seguinte questionamento que achei interessante:
Vocês realmente acham que todo mundo vai conseguir comprar e-books? E se de repente todo mundo no mundo (alfabetizado ou não) tivesse um e-book e acesso ilimitado à e-books grátis, acham que isso seria o suficiente?
Então sim, acho que precisamos sim de nossas bibliotecas. Por que e-books, assim como livros impressos, são um meio e não a solução para todas as nossas necessidades de informação.
Neil Gaiman, além de lamentar o fechamento de várias bibliotecas, já falou que o que o preocupa não é o fim dos livros, mas o fim dos leitores. Fechar as bibliotecas por que elas gastam muito dinheiro é uma decisão administrativa e econômica que desconsidera totalmente as necessidades de uma comunidade que precisa deste tipo de apoio. Ok, sei que é batido, mas é isso mesmo: será que a única coisa que precisamos nessa vida mesmo é só de comida? Podemos sobreviver restritamente apenas com o que é básico? Sim, podemos. Mas seria isso mesmo desejável pra toda uma comunidade?
As bibliotecas nunca foram armazéns de livros. Embora continuem a fornecer livros no futuro, também funcionarão como sistema-nervoso da informação digitalizada – tanto em termos de vizinhança, quanto dos campi universitários. - Robert Darnton
Literatura não é apenas literatura, assim como livros não são apenas livros… E uma biblioteca (dependendo das pessoas que lá trabalham) não é apenas uma biblioteca. É difícil, para mim, acreditar que as bibliotecas e os livros estão morrendo e acabando, uma vez que a biblioteca da minha universidade nunca tem mesas disponíveis, nem espaço para estudo o suficientes. Por que será que ela está sempre cheia de gente, estudando, com livros, papéis, anotações, laptops, netbooks e celulares de mil tipos? Por que essas pessoas não estudam em casa? Se existe um ambiente que proporciona silêncio e acomodação, onde as pessoas se sintam confortáveis para estudar, planejar trabalhos, tomar café ou dormir no puffe, por que esse ambiente deveria deixar de existir? O que existe nesse ambiente e atrai as pessoas, que não existe em nenhum outro lugar?
Alguém ousa imaginar o conceito de uma biblioteca feita apenas de pessoas ao invés de simplesmente só livros? Em um conceito de ‘centro de cultura e informação’ totalmente livres e independentes de organização e de suportes físicos de informação? Imaginar é uma tarefa difícil e conciliar a imaginação com a viabilização, mais difícil ainda. Mas isso a gente deixa para os visionários. Enquanto isso, continuaremos questionando e tentando nos adaptar a todas as mudanças, na medida do possível.


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