A IMPORTÂNCIA DA NEUROCIÊNCIA NA
EDUCAÇÃO
Fga Vera Lucia de Siqueira Mietto
,CFFª 3026
Artigo escrito pela fonoaudióloga
Vera Lúcia de Siqueira Mietto, devendo ser utilizado apenas como parâmetro de
estudo.
Os créditos e a revisão textual
são de responsabilidade da autora
Os avanços e descobertas na área
da neurociência ligada ao processo de aprendizagem é sem duvida, uma revolução
para o meio educacional. A Neurociência da aprendizagem, em termos gerais, é o
estudo de como o cérebro aprende. É o entendimento de como as redes neurais são
estabelecidas no momento da aprendizagem, bem como de que maneira os estímulos
chegam ao cérebro, da forma como as memórias se consolidam, e de como temos
acesso a essas informações armazenadas. Quando
falamos em educação e aprendizagem, estamos falando em processos neurais, redes
que se estabelecem, neurônios que se ligam e fazem novassinapses. E o que
entendemos por aprendizagem? Aprendizagem, nada mais é do que esse maravilhoso
e complexo processo pelo qual o cérebro reage aos estímulos do ambiente, ativa
essas sinapses (ligações entre os neurônios por onde passam os estímulos),
tornado-as mais “intensas”. A cada estimulo novo, a cada repetição de um
comportamento que queremos que seja consolidado temos circuitos que processam
as informações, que deverão ser então consolidadas.
A neurociência nos vem descortinar
o que antes desconhecíamos sobre o momento da aprendizagem. O cérebro, esse órgão
fantástico e misterioso, é matricial nesse processo do aprender. Suas regiões,
lobos, sulcos, reentrâncias tem sua função e real importância num trabalho em
conjunto, onde cada um precisa e interage com o outro. Mais qual o papel e
função de cada região cerebral? Aonde o aprender tem realmente a sua sede e
necessita ser estimulada adequadamente? Conhecer
o papel do hipocampo na consolidação de nossas memórias, a importância do
sistema límbico, responsável pelas nossas emoções, desvendar os mistérios que
envolvem a região frontal, sede da cognição, linguagem e escrita, poder
entender os mecanismos atencionais e comportamentais de nossas crianças com
TDAH, as funções executivas e o sistema de comando inibitório do lobo pré-frontal
é hoje fundamental na educação assim como compreender as vias e rotas que
norteiam a leitura e escrita (regidas inicialmente pela região visual mais especifica
(parietal), que reconhece as formas visuais das letras e depois acessando outras
áreas para que a codificação e decodificação dos sons sejam efetivas. Como não
penetrar nos mistérios da região temporal relacionado á percepção e identificações
dos sons onde os reconhece por completo? (área temporal verbal que produz os
sons para que possamos fonar as letras). Não esquecendo a região occipital que
tem como uma de suas funções coordenar e reconhecer os objetos assim como o
reconhecimento da palavra escrita. Assim, cada órgão se conecta e se interliga
nesse trabalho onde cada estrutura com seus neurônios específicos e especializados
desempenham um papel importantíssimo nesse aprender.
Podemos compreender, desta forma
que o uso de estratégias adequadas em um processo de ensino dinâmico e
prazeroso provocará consequentemente, alterações na quantidade e qualidade
destas conexões sinápticas, afetando assim o funcionamento cerebral, de forma
positiva e permanente, com resultados extremamente satisfatórios.
Estudos na área neurocientífica,
centrados no manejo do aluno em sala de aula vem nos esclarecer que a
aprendizagem ocorre quando dois ou mais sistemas funcionam de forma inter
relacionada. Assim, podemos entender, por exemplo, como é valioso aliar a
musica e os jogos em atividades escolares, pois há a possibilidade de se
trabalhar simultaneamente mais de um sistema: o auditivo, o visual e até mesmo
o sistema tátil (a música possibilitando dramatizações). Os games (adorados pelas crianças e
adolescentes) ainda em discussão no âmbito acadêmico são fantásticos na sua
forma de manter nossos alunos plugados e podem ser mais uma ferramenta
facilitadora, pois possibilita estimular o raciocínio lógico, a atenção, a
concentração, os conceitos matemáticos e através de cruzadinhas e caça-palavras
interativos, desenvolver a ortografia de forma desafiadora e prazerosa para os
alunos. Vários sites na internet nos disponibilizam esses jogos.
Desta forma, o grande desafio dos educadores é
viabilizar uma aula que 'facilite' esse disparo neural, as sinapses e o
funcionamento desses sistemas, sem que necessariamente o professor tenha que
saber se a melhor forma de seu aluno lidar com os objetos externos é: auditiva,
visual ou tátil. Quando ciente da modalidade de aprendizagem do seu aluno, (e
isso não está longe de termos na formação de nossos educadores) o professor
saberá quais estratégias mais
adequadas utilizar e certamente
fará uso desse grande e inigualável meio facilitador no processo ensino –
aprendizagem.
Outra grande descoberta das
neurociências é que através de atividades prazerosas e desafiadoras o “disparo”
entre as células neurais acontece mais facilmente: as sinapses se fortalecem e
redes neurais se estabelecem com mais facilidade.
Mas como desencadear isso em sala
de aula? Como o professor pode ajudar nesse “fortalecimento neural”?Todo ensino
desafiador ministrado de forma lúdica tem esse efeito: aulas dinâmicas,
divertidas, ricas em conteúdo visual e concreto, onde o aluno não é um mero
observador, passivo e distante, mas sim, participante, questionador e ativo
nessa construção do seu próprio saber, o deixam “literalmente ligado”, plugado,
antenado.
O conteúdo antes desestimulante e
repetitivo para o aluno e professor ganha uma nova roupagem: agora propicia
novas descobertas, novos saberes, é dinâmico e flexível, plugado em uma era
informatizada aonde a cada momento novas informações chegam ao mundo desse
aluno. Professor e aluno interagem ativamente, criam, viabilizam possibilidades
e meios de fazer esse saber, construindo junta a aprendizagem. Uma aula
enriquecida com esses pré- requisitos é mágica, envolvente e dinâmica. É saber
fazer uso de uma estratégia assertiva onde conhecimentos neurocientíficos e
educação caminham lado a lado. Mas como isso é possível? O que fazer em sala de
aula? A seguir veremos algumas sugestões que podem ser adotadas:
1- Estabeleça regras para que haja um convívio
harmonioso de todos em sala de aula, fazendo com que os alunos sejam
responsáveis pela organização, limpeza e utilização dos materiais. Opinando e
criando as regras e normas adotadas, eles se sentirão responsáveis pela sala de
aula .
2- Faça uso de materiais
diversificados que explorem todos os sentidos. Visual: mural, cartazes
coloridos, filmes, livros, filmes educativos; Tátil: material concreto e
objetos de sucata planejados. Há uma riqueza de sites na internet que nos
disponibilizam atividades muito ricas e prazerosas. A criatividade aflora e a
aula se torna muito divertida; Auditivo: música e bandinhas feitas com material
de sucata, sempre com o conteúdo inserida nelas. A criação de musicas sobre
conteúdos é uma forma divertida de aprender. Talentos apareceram em sala de
aula. E quem não gosta de cantar? A aula fica muito rica e prazerosa!
3- Reserve um lugar com almofadas
e tapete, para momentos de descanso e reflexão.
O “cantinho da leitura” é
fundamental na sala de aula na ausência de uma biblioteca. Relaxar após o
trabalho prazeroso significa dar tempo para o cérebro escanear todo o conteúdo
que vai ser assimilado, ativar o hipocampo (região responsável pelas memórias)
e consolidar o que se aprendeu.
4- Estabeleça rotinas onde possam
realizar trabalhos individuais, em dupla e em grupo.
(rotinas estabelecidas reforçam comportamentos
assertivos e organização. Crianças com TDAH, que apresentam mal funcionamento
das funções executivas se beneficiam com rotinas e regras pré estabelecidas). O
trabalho em equipe é extremamente prazeroso, ativa as regiões límbicas (responsáveis
pelas emoções) e como sabemos que o aprender está ligado à
emoção, a consolidação do
conteúdo se faz de maneira mais efetiva. (hipocampo) .
5- Trabalhar o mesmo conteúdo de
varias formas possibilita aos alunos “mais lentos” oportunidades de vivenciarem
a aprendizagem de acordo com suas possibilidades neurais. Dê aos mais rápidos,
atividades que reforcem ainda mais esse conteúdo, que os mantenham atentos e
concentrados, para que os mais lentos não sejam prejudicados com conversas e
agitação dos mais rápidos.
6- A flexibilidade em sala de aula permite uma
aprendizagem mais dinâmica e melhor percebida por todos os alunos. O professor
que ministra bem os conflitos em sala de aula, que tem “jogo de cintura” e
apresenta o conteúdo com prazer mantém seus alunos “plugados” na sala de aula. Desta
forma, sabedores deste mecanismo neural que impulsiona a aprendizagem, das
estratégias facilitadoras que estimulam as sinapses e consolidam o
conhecimento, dessa magia onde cada estrutura cerebral se interliga para que
todos os canais sejam ativados. Assim, como numa orquestra afinadíssima, onde a
melodia sai perfeita, estar de posse desses importantes conhecimentos e
descobertas será como reger uma orquestra onde o maestro saberá o quão
precisamente estão afinados seus instrumentos e como poderá tirar deles
melodias harmoniosas e suaves!
A neurociência se constitui assim
em atual e uma grande aliada do professor para poder identificar o individuo
como ser único, pensante, atuante, que aprende de uma maneira toda sua, única e
especial. Desvendando os mistérios que envolvem o cérebro na hora da
aprendizagem, a neurociências disponibiliza, ao moderno professor
(neuroeducador), impressionantes e sólidos conhecimentos sobre como se processam
a linguagem, a memória, o esquecimento, o humor, o sono, a atenção, o medo,
como incorporamos o conhecimento, o desenvolvimento infantil, as nuances do
desenvolvimento cerebral desta infância e os processos que estão envolvidos na aprendizagem
acadêmica. Logo, um vasto campo de
preciosas informações relacionadas ao aluno e ao processo de absorção da aprendizagem
a ele
proporcionada. Tomarmos posse
desses novos e fascinantes conhecimentos é imprescindível e de fundamental
importância para uma pedagogia moderna, ativa, contemporânea, que se mostre
atuante e voltada às exigências do aprendizado em nosso mundo globalizado,
veloz, complexo e cada vez mais exigente.
Conceitos como neurônios,
sinapses, sistemas atencionais, (que viabilizam o gerenciamento da
aprendizagem), mecanismos mnemônicos (fundamentais para o entendimento da
consolidação das memórias), neurônios espelho, que possibilitam a espécie
humana progressos na comunicação, compreensão e no aprendizado e plasticidade
cerebral, ou seja, o conhecimento de que o cérebro continua a desenvolver-se, a
aprender e a mudar não mais estarão sendo discutidos apenas por
neurocientistas, como até então imaginávamos.
Estarão agora, na verdade, em sala de aula, no dia a dia do educador,
pois uma nova visão de aprendizagem está a se delinear. O fracasso e insucesso
escolar têm hoje um novo olhar, já que uma nova e fascinante gama de
informações e conhecimentos está á disposição do educador moderno.
Graças á neurociência da
aprendizagem, os transtornos comportamentais e da aprendizagem passaram a ser
mais facilmente compreendidos pelos educadores, que aliados á neurociência tem
subsídios para a elaboração de estratégias mais adequadas a cada caso. Um
professor qualificado e capacitado, um método de ensino adequado e uma família
facilitadora dessa aprendizagem são fatores fundamentais para que todo esse
conhecimento que a neurociências nos viabiliza seja efetivo, interagindo com as
características do cérebro de nosso aluno. Esta
nova base de conhecimentos
habilita o educador a ampliar ainda mais as suas atividades educacionais,
abrindo uma nova estrada no campo do aprendizado e da transmissão do saber.